O conteúdo deste livro consiste na captura da educação pública na maioria das sociedades contemporâneas pela macroestrutura global de poder político-econômico, composta pelos grandes oligopólios empresariais (finança incluída) transnacionais, com o suporte das organizações multilaterais do sistema institucional capitalista internacional (Banco Mundial e OCDE, notadamente), das poderosas fundações privadas oriundas de imensos impérios empresariais, tais como Gates, Broad, Walton, dentre outras, dos think-tanks e dos grandes veículos de mídia, ambos graciosamente financiados pelas grandes corporações empresariais globais, no intuito de instrumentalizar aquela esfera social com vistas a dinamizar e acelerar o processo de acumulação do capital global, no contexto da grave crise estrutural que desde meados da década de 1960 assola o modo de produção capitalista.
Nesse sentido, busca o autor apreender não somente as conexões entre a educação e referida crise, mas, sobretudo, as raízes sistêmicas dessa. Mesmo admitindo a autonomia relativa da qual dispõe o complexo educacional face ao sistema econômico ao qual se integra, entende-se que, em última instância, os constrangimentos estruturais impostos por aquele processo de acumulação determinam o caráter e a função que a educação desempenha no complexo social total no qual ela se insere.
Dessa forma, o livro investiga os influxos da economia política global sobre a educação básica pública de alguns países, elucidando as causas estruturais que contribuem para a deterioração dos sistemas de ensino daqueles países.
A crítica é expressa, desde logo, no próprio título, onde o autor utiliza ácida ironia em referência ao programa educativo No Child Left Behind, instituído, nos Estados Unidos, por George W. Bush em 2001. Se em tradução livre, o programa chamou-se "Nenhuma criança deixada para trás", a análise de Remo Bastos condu-lo a verter o sentido das transformações ocorridas no sistema educacional estadunidense para "Nenhum lucro deixado para trás". O título é por demais oportuno pela cabida ironia que encerra e porque lança luzes, já de início, sobre um dos objetivos do estudo: deslindar as consequências da captura da educação pública básica pela macroestrutura de poder político-econômico global, comandada pelos imensos conglomerados empresariais oligopolistas, pelos organismos internacionais e pelos Estados Nacionais.
Ora, numa economia mundializada em que as 500 maiores empresas transnacionais têm faturamento correspondente a cerca de 35 a 40% do PIB mundial; em face da tessitura de intrincadas redes de influência dessas megacorporações sobre empresas de menor porte, sobre agências governamentais e sobre os próprios governos nacionais, não é de menor importância tratar do poder desses oligopólios na determinação das tendências do "livre" mercado, das políticas estatais e na definição do modo de vida em escala planetária.
Abordando os casos dos Estados Unidos e do Brasil, o autor mostra como os sistemas educacionais públicos básicos, contemporaneamente, são apropriados pelas mencionadas corporações e refuncionalizados para a acumulação privada de capital – transformação qualitativa que requer a intrusão, nessa esfera social, da lógica corporativa, do gerencialismo empresarial e de formas de regulação amplamente controladas pelas corporações, configurando uma tendência mundial que, todavia, se realiza de formas particulares em cada nação.
Na direção oposta, a autor explora algumas experiências educacionais vitoriosas, dentre as quais a da Finlândia, que evidenciam a plausibilidade da construção, em qualquer formação social, de um sistema educacional minimamente justo e eficaz, demonstrando, portanto, que a questão é política, e não necessária e unicamente econômica.
No Profit Left Behind: Os Efeitos da Economia Política Global sobre a Educação Básica Pública
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SUMÁRIO
TITULO PÁGINA
PREFÁCIO 09
1 INTRODUÇÃO 25
2 A ECONOMIA POLÍTICA GLOBAL E A CRISE SISTEMICA DO CAPITALISMO 33
2.1 De Bretton Woods à Crise de 2008: caminhos e descaminhos do capi-talismo monopolista 33
2.1.1 A concentração de poder econômico e político e a teoria social 34
2.1.2 Do capitalismo monopolista clássico ao capitalismo monopolista-financeiro 54
2.1.3 Financeirização, imperialismo financeiro e o “beco sem saída” do capitalismo contemporâneo 95
3 O MODELO CORPORATIVO GLOBAL DE EDUCAÇÃO 129
3.1 A crise educacional nos Estados Unidos da América 131
3.1.1 Antecedentes: “Uma nação em risco” 132
3.1.2 No Child Left Behind: A “crise” escolar como estratégia 140
3.1.2.1 Testes: a ferramenta "por excelência" do programa 144
3.1.2.1.1 O ardil da meta impossível 146
3.1.2.1.2 Recompensa e punição: o modus operandi do sistema de accountability do No Child Left Behind 151
3.1.2.1.2.1 As limitações intrínsecas dos testes padronizados de aprendizagem 160
3.1.2.1.2.2 Avaliação por valor agregado 164
3.1.2.1.3 Adestramento para testes padronizados e estreitamento currilar: a diferença entre treinar e educar 178
3.1.2.2 Dupla segregação: raiz estrutural da diferença de desempenho escolar 181
3.1.2.2.1 Pobreza na terra da opulência: miséria e desigualdade no sistema educacional estadunidense 183
3.1.2.2.2 Segregação e ressegregação racial nos Estados Unidos: o retrocesso na inte-gração das minorias e seu reflexo na guetorização escolar 195
3.1.2.3 Avaliação final do NCLB 200
3.1.3 A Blitzkrieg empresarial: a pilhagem dos recursos financeiros da educação pública 203
3.1.3.1 Contextualização socioeconômica, política e histórica 204
3.1.3.2 Fundação Gates: filantrocapitalismo, corporocracia e captura da educação bá-sica públuica estadunidense 213
3.1.3.3 Escolas Charters: Alocomotiva do "trem da alegria" empresarial que dilacera a educação pública básica estadunidense 227
3.1.3.3.1 Charters virtuais: arapucas escucaionais para pais e alunos e "vacas leiteiras" para suas mantenedoras 245
3.1.3.4 O desmantelamento do magistério no ensino básico público estadunidense 253
3.1.4 Avaliação da conjuntura educacional estadunidense 261
3.2 A crise da educação pública básica no Brasil 264
4 “OUTRA EDUCAÇÃO É POSSÍVEL”: SISTEMAS NACIONAIS QUE DESAFI-AM O MODELO CORPORATIVO GLOBAL DE EDUCAÇÃO 285
4.1 O sistema educacional filandês 285
4.1.1 O impactod dos resultados do teste do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2000 286
4.1.2 Fatores que colaboram para a consistência do modelo educacional filandês 289
4.1.2.1 Baixo gap educacional intra e interescolas 290
4.1.2.2 Prestígio social, autonomia e condições de trabaçho dos professores 292
4.1.2.3 Igualdade de oportunidades como princípio fundamental do sistema educacio-nal finlandês 296
4.1.2.4 Consistente formação docente de excelência, necessariamente vinculada à pes-quisa 299
4.1.2.5 Menos significa mais: menos aulas, menso tarefas de casa, menos testes; mais aprendizagem e maior equilíbrio entre as dimensões constitutivas da subjetividade e da sociabilidade 302
4.1.3 As reformas que lamçaram as bases do atual modelo 308
4.1.4 Como se estrutura o sistema educacionaol da Finlândia 310
4.1.5 Avaliação geral e reprodutibilidade do modelo em outros países 313
4.2 A excelência da educação cubana: raízes, desdobramentos e lições 317
4.2.1 Consolidação do reconhecimento internacional da excelência de sua educação 317
4.2.2 Contextualização sócio-histórica 321
4.2.3 Pilares do sistema educacional cubano 326
4.2.3.1 Investimento sustentado em educação 326
4.2.3.2 Docência: formação de excelência e exercício sob tutoria 329
4.2.3.3 Ambiente social favorável 333
4.2.4 Velhos problemas, novos desafios e perspectivas de desenvolvie-mento socioeconômico no século XXI 336
4.2.5 Reprodutibilidade do sistema educacional cubano em outras for-mações sociais 342
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 345
REFERENCIAS 355
- Informações Adicionais -
Ano: 2018
Número de Páginas: 414
Idioma: Português
Autor: Remo Bastos
Edição: 1ª
ISBN: 9788593267062